E
que vontade, assim, de ter você. Deixasse cair na minha mão, você ia ver! Ia
amar você todinho. Te querer beijar, te querer rolar, te querer suar. Ai, que
querer! Deixava você fazer de mim sua menina, pegar no colo, arder em
disritmia. Beijo por beijo até chegarmos em pele pura. Desse jeito assim, nem
precisa de palavra para eu ser sua. Queria você era aqui agora. Queria era ver
você aqui agora. Porque você me olha. Olha que eu sei e sei também pensando o
quê. Mas deixa para lá, que você tem mulher e eu tenho homem. Vou dando meu
jeito que só o sonho é que alimenta minha fome.
quinta-feira, 14 de novembro de 2013
quinta-feira, 27 de junho de 2013
Leite Derramado
No fogão, o leite anunciava
fervura, ainda sem transbordar, enquanto a luz da manhã envelhecida cortava as
frestas de algumas persianas, queimando os olhos do casal nu deitado sobre os
colchões descobertos no chão da sala.
De bruços e com a boca
parcialmente abafada pelos travesseiros, Antonieta divagou sobre como os
cinegrafistas enchiam seus filmes de cenas de sexo e nudez, na crença de que
assim seriam obras mais sérias, mais reais, mais adultas, como se uma mera
elevação de censura fizesse brotar maturidade – profundidade.
E já que no tema sexo, ele
aproveitou para reforçar, pela terceira vez naquele mês, que era só o que
queria com ela, ao menos por ora, que estava bom assim, do jeito que estava. Um
aviso anti-quebra de coração, que estava mais para desencargo de culpa em
verdade.
Ela rolou um pouco o corpo,
preguiçosamente, e com o sol matinal a clarear-lhe agora o sorriso puro,
lembrou-lhe de que ela também não tinha maiores interesses que aproveitar o
presente. Linda no limite que lhe era possível, convenceu-o. Uma vez bonito,
sempre fica mais crível.
Ele se levantou pela
segunda vez naquela manhã, lembrando-a do homúnculo que era. Ou pelo menos
parecia-lhe ainda mais naquele momento. No banheiro no cômodo logo ao lado,
ligou o chuveiro morno, esquecendo-se de si e dela debaixo d’água.
Voltou para a sala: lençóis
revirados, colchões vazios, porta aberta. O leite transbordara.
quarta-feira, 22 de maio de 2013
Primeira Pessoa do Singular
Eu gosto de mandar beijo
com exclamação. Aliás, acho tudo mais divertido com exclamação. Mas me
contenho, para evitar uma euforia descabida que alguém possa imaginar.
Eu me derreto com um
Português bem escrito, mas me divirto horrores ao conversar amenidades em
péssimas (mas nunca despercebidas) concordâncias plurais. Porque é mais
aprazível e engraçado assim, e o mais gostoso da vida para mim é fazer rir.
Eu lembro das coisas pelo
cheiro e, sentindo-o, experimento novamente até mesmo o sentimento à época
vivido. Olfato é definitivamente meu sentido favorito.
Eu tenho a transparência da
afeição que permite àqueles de quem não gosto terem clara noção de que, de
fato, não me agradam.
Eu não compreendo pessoas com
elogios na ponta da língua, impedindo-se de externá-los. Não entendo também o
que se passa na cabeça de quem, por vontade própria, opta por machucar – embora
também seja vítima dessa armadilha.
Eu acredito que as relações
de amizade verdadeiramente edificadas são preciosas demais para serem tomadas
com a leviandade que somos levados a crer ser-lhes natural.
Eu seria incrivelmente
infeliz sem música.
Eu tenho uma criticidade
aguda, que não isenta nem a mim mesma, e é desafio cotidiano mantê-la em níveis
saudáveis. Dela nascem antipatias gratuitas e ácidas (a mim e aos outros), como
aos dramáticos e àqueles que insistem em ter opinião formada sobre tudo.
Eu tenho uma queda
descomunal por bochechas e sorrisos de bebês. Vejo-os e lembro por meses,
nítido o bastante para lembrar até da cor dos olhos daquela criança.
Eu acredito que é preciso
doer com intensidade considerável para realmente se aprender algo valioso.
Acreditava existirem pessoas imunes ao aprendizado pela dor, mas as conheci
depois humanas demais para preservar-lhes a mesma fé.
Eu temo, quase que
diariamente, não ter tempo suficiente para fazer tudo que quero fazer nesta
vida.
quarta-feira, 8 de maio de 2013
Vá
Não
vou mais mendigar seu tempo, amor,
Eu
nunca quis você só pra mim.
Para
amar, penso,
Não
se deve pedir por favor.
E
até o amor, meu bem, esgota-se, sim.
Vou-me
embora, então.
Devolverei
seus livros, juro!
Eles
me lembram de um extinto carinho intenso.
E
vá, viva sua tão grande nova paixão!
Espero
que ele lhe baste no seu apuro.
Espírito
par,
Confidente,
Jamais
a esquecerei.
Não
finja; manterei comigo a habilidade de curar
“A
dor que deveras sente”.
Peço
apenas que não me tome com acidez!
Supervalorizar
amores é defeito meu,
Hoje
sei.
Acho
que agora é de vez…
Linda,
você me perdeu.
quinta-feira, 25 de abril de 2013
Carta
O
Tempo é presente diário que nós, rotineiramente, optamos por receber ou não.
Inquestionavelmente, à nossa disposição ele sempre está. Você, como poucos,
consegue perceber a passagem do tempo com o mesmo pesar – e leve desespero –
que eu.
Desespero,
contudo, não deveria haver, pois, quer acredite no Acaso, quer acredite em
alguém chamado Deus, Ele não lhe nega nem por um dia a opção. O tempo das
nossas vidas é cada manhã em que dormimos horas desnecessárias a mais, em vez
de alvorecer conhecendo um lugar novo; é cada hora do dia em que escolhemos
trabalhar, em lugar de visitarmos aquele amigo de infância que não encontramos
há meses; mas é também todos os domingos que gastamos inteiros sem sair da cama
para beijar preguiçosamente cada parte alcançável do Amor de nossas vidas.
O
que desejo aos que amo é que sejam conhecedores dessa verdade desde cedo, que
não esperem para isso grandes perdas ou feridas, pois o Tempo hoje é presença
constante, mas é também ruína ao coração de quem só lhe resolve enxergar quando
dá as costas.
Acompanhei
de perto seus melhores anos. Passei ao seu lado, sentindo tanto quanto, algumas
dores, várias alegrias, diversas lapidações do Tempo em seu coração, alma e
caráter. E ainda sou capaz de enxergar o muito que há de vir de você. Muito que
falta viver, muito que falta sentir. Muito tempo para ser mais feliz.
Por
isso, sei que ficou em mim – e que levarei para sempre – uma marcante Vitória
nos meus coração, alma e caráter. Aonde quer que eu vá, viverá a menina
com alma de mulher, que tinha mais coragem que o que pensava e mais garra que o
que ousavam, e que construiu comigo amizade-amor sem limites.
De
tudo de positivo que sempre quis para você, o que talvez não tenha sido dito ainda
é que espero, com meu carinho mais puro, que seus anos encontrem um equilíbrio
próprio perfeito, para que use o Tempo para construir sua Vida, e não o
contrário.
O
resto das nossas vidas começa agora.
E
eu quero que você aproveite ao máximo.
segunda-feira, 15 de abril de 2013
Soneto Ferido
Aparada
pela porta é que me apercebo
Que
o fim veio quase sem precisar de ajuda.
Ainda
que não me livre do medo,
Aprendo
a, desta vez, deixá-lo, muda.
Você
porfia, flertando com a Tristeza,
Fazendo
dela amante também de quem não a deseja.
E
não vai doer menos ver mais uma em sua coleção, meu bem!
Mas
prefiro solidão a amor partilhado, ou aquém.
Sei
da paixão que esfria,
E
ela não é tormenta alguma.
Problema
é o calor que preciso que me consuma.
De
morna em mim, basta-me a vida.
Se
é Amor,
Que
lacere, mas que abra quente a ferida!
sexta-feira, 12 de abril de 2013
Nem Preto, Nem Branco
Nunca fui de esperar por contos de fada. Sempre preferi a praticidade de uma vida real menos colorida e sem arcos-íris brotando a cada esquina. Mas acredito que alguma esperança deve ter se enraizado a contragosto, tal qual erva daninha, porque ainda dói a rigidez dessa vida.
Dói assistir a carapaça se formando pelos tapas que sou obrigada a levar dia após dia – e que não fazem de mim heroína qualquer, pois vejo outros serem estapeados de maneiras bem piores. Endureci, isso é certeza. Ainda assim, nem de longe sou mais feliz por esperar sempre um mal antes de um bem, como se, no rascunho de qualquer felicidade, fosse melhor preparar as pernas para a rasteira repentina que (muito provável) virá junto ou antes dela.
Dói sentir o frio das palavras e do amor que tentam manter hoje em dia (irrisório e secundário) e não mais me surpreender, aquietando inclusive, satisfeita. Sacio-me de algum modo, inegável. Mas leviana, apenas comprando o que são capazes de vender.
E é dor também que sinto quando pesa e espeta dentro do peito o tédio latente dessa vida de mesmices e frustrações. Acostumada já, mas doída sempre. Porque sobre o nada que há para se fazer, não há nada a se fazer.
E não sei se encontro alívio ou desespero ao perceber que as dores também sucumbirão, que criarei calos também para elas, num escudo cada vez mais insosso. Seguirá, enfim, a vida em cinza.
terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
Francisco da Depressão
Peço
licença à poesia.
Um
pequeno (e malcriadíssimo!) protesto às garotinhas que ainda não cresceram em
suas fantasias sexuais. Pequena censura a todas as filhas da Tropicália que
cresceram ouvindo as mães suspirando e dizendo que largariam os maridos sem
pensarem duas vezes por apenas uma noite de amor com o malandro culto carioca
(um beijo aí, Dona Perpétua!), Chico Buarque. Ou só Chico, para as íntimas.
Um
apelo às que, apesar de pertencerem à década de 90 – no máximo 80! –,
efervescem com a (nova) volta da onda de amar o velho e conseguem se derreter
por aqueles olhos verdes mais que suas próprias mães o fizeram há quarenta anos
atrás.
Por
favor, queridas. Quando vocês alcançaram idade para entender o que andavam
suspirando pelas alcovas, o bacana alcançava idade para ser avô de vocês!
E
aí somos obrigados a mil e um “Casa comigo”, “Estou apaixonada” e até um “Vem
ni mim” eu juro que já vi.
Admito
sem problemas: seu Francisco é um dos caras mais bárbaros da nossa música, e eu
muito provavelmente estarei sempre interessada no que venha a sair da boca
dele. Aliás, no que venha a ser escrito por ele. E realmente! Também já deu um
bom caldo. Mas, hoje em dia, apesar de com certeza ter muito mais coisa bonita
para escrever e cantar, tem quase setenta anos, quarenta e oito a mais que eu e
quatro a menos que meu avô antes de falecer.
Longe
de mim julgar paixões que nascem com diferenças de idade (já posso sentir as
pedras das defensoras fiéis do amor pelo intelecto)! Mas vou dizer uma coisa:
ainda prefiro só ouvir o Chico e beijar alguém do meu tamanho.
Francisco,
meu querido, eu te adoro! Mas eu não daria para você nem fodendo.
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
Rugas
Antonieta se sentou no
banco da praça, esperando não sabia o que passar, e passar feliz, para que ela lhe
pudesse sugar um pouco e ser ligeiramente mais feliz também.
Excepcionalmente, naquele
dia, esperou sem ansiar.
Entre o fim do primeiro
cigarro e o acender do segundo foi que sentou ao seu lado senhora gorda, com
lenço no cabelo e enormes joanetes florescendo entre os dedos dos pés sujos, secos
e grossos.
Engraçado. Para Antonieta,
cada joanete combinava com alguma ruga da testa ou circunscrita aos olhos, de onde
parecia nascer o cheiro de uma história diferente. Uma por cada prega.
Achou curiosamente bonitos
os sulcos que a pele ia formando e foi, telepaticamente, lendo a vida daquela
senhora, que como qualquer uma, mas à sua bem calosa maneira, já havia sido
menina, moça e mulher.
Ao se dar conta de que era
admirada, não demonstrando surpresa, ela sorriu. Sorriu mais com as rugas dos olhos
– e suas memórias – que com a própria boca.
Antonieta apagou o cigarro,
ergueu-se e partiu. Foi para casa. A felicidade já havia lhe visitado.
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