quinta-feira, 25 de abril de 2013

Carta

O Tempo é presente diário que nós, rotineiramente, optamos por receber ou não. Inquestionavelmente, à nossa disposição ele sempre está. Você, como poucos, consegue perceber a passagem do tempo com o mesmo pesar – e leve desespero – que eu.
Desespero, contudo, não deveria haver, pois, quer acredite no Acaso, quer acredite em alguém chamado Deus, Ele não lhe nega nem por um dia a opção. O tempo das nossas vidas é cada manhã em que dormimos horas desnecessárias a mais, em vez de alvorecer conhecendo um lugar novo; é cada hora do dia em que escolhemos trabalhar, em lugar de visitarmos aquele amigo de infância que não encontramos há meses; mas é também todos os domingos que gastamos inteiros sem sair da cama para beijar preguiçosamente cada parte alcançável do Amor de nossas vidas.
O que desejo aos que amo é que sejam conhecedores dessa verdade desde cedo, que não esperem para isso grandes perdas ou feridas, pois o Tempo hoje é presença constante, mas é também ruína ao coração de quem só lhe resolve enxergar quando dá as costas.
Acompanhei de perto seus melhores anos. Passei ao seu lado, sentindo tanto quanto, algumas dores, várias alegrias, diversas lapidações do Tempo em seu coração, alma e caráter. E ainda sou capaz de enxergar o muito que há de vir de você. Muito que falta viver, muito que falta sentir. Muito tempo para ser mais feliz.
Por isso, sei que ficou em mim – e que levarei para sempre – uma marcante Vitória nos meus coração, alma e caráter. Aonde quer que eu vá, viverá a menina com alma de mulher, que tinha mais coragem que o que pensava e mais garra que o que ousavam, e que construiu comigo amizade-amor sem limites.
De tudo de positivo que sempre quis para você, o que talvez não tenha sido dito ainda é que espero, com meu carinho mais puro, que seus anos encontrem um equilíbrio próprio perfeito, para que use o Tempo para construir sua Vida, e não o contrário.
O resto das nossas vidas começa agora.
E eu quero que você aproveite ao máximo.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Soneto Ferido

Aparada pela porta é que me apercebo
Que o fim veio quase sem precisar de ajuda.
Ainda que não me livre do medo,
Aprendo a, desta vez, deixá-lo, muda.

Você porfia, flertando com a Tristeza,
Fazendo dela amante também de quem não a deseja.
E não vai doer menos ver mais uma em sua coleção, meu bem!
Mas prefiro solidão a amor partilhado, ou aquém.

Sei da paixão que esfria,
E ela não é tormenta alguma.
Problema é o calor que preciso que me consuma.

De morna em mim, basta-me a vida.
Se é Amor,
Que lacere, mas que abra quente a ferida!

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Nem Preto, Nem Branco

Nunca fui de esperar por contos de fada. Sempre preferi a praticidade de uma vida real menos colorida e sem arcos-íris brotando a cada esquina. Mas acredito que alguma esperança deve ter se enraizado a contragosto, tal qual erva daninha, porque ainda dói a rigidez dessa vida.
Dói assistir a carapaça se formando pelos tapas que sou obrigada a levar dia após dia – e que não fazem de mim heroína qualquer, pois vejo outros serem estapeados de maneiras bem piores. Endureci, isso é certeza. Ainda assim, nem de longe sou mais feliz por esperar sempre um mal antes de um bem, como se, no rascunho de qualquer felicidade, fosse melhor preparar as pernas para a rasteira repentina que (muito provável) virá junto ou antes dela.
Dói sentir o frio das palavras e do amor que tentam manter hoje em dia (irrisório e secundário) e não mais me surpreender, aquietando inclusive, satisfeita. Sacio-me de algum modo, inegável. Mas leviana, apenas comprando o que são capazes de vender.
E é dor também que sinto quando pesa e espeta dentro do peito o tédio latente dessa vida de mesmices e frustrações. Acostumada já, mas doída sempre. Porque sobre o nada que há para se fazer, não há nada a se fazer.
E não sei se encontro alívio ou desespero ao perceber que as dores também sucumbirão, que criarei calos também para elas, num escudo cada vez mais insosso. Seguirá, enfim, a vida em cinza.