sexta-feira, 12 de abril de 2013

Nem Preto, Nem Branco

Nunca fui de esperar por contos de fada. Sempre preferi a praticidade de uma vida real menos colorida e sem arcos-íris brotando a cada esquina. Mas acredito que alguma esperança deve ter se enraizado a contragosto, tal qual erva daninha, porque ainda dói a rigidez dessa vida.
Dói assistir a carapaça se formando pelos tapas que sou obrigada a levar dia após dia – e que não fazem de mim heroína qualquer, pois vejo outros serem estapeados de maneiras bem piores. Endureci, isso é certeza. Ainda assim, nem de longe sou mais feliz por esperar sempre um mal antes de um bem, como se, no rascunho de qualquer felicidade, fosse melhor preparar as pernas para a rasteira repentina que (muito provável) virá junto ou antes dela.
Dói sentir o frio das palavras e do amor que tentam manter hoje em dia (irrisório e secundário) e não mais me surpreender, aquietando inclusive, satisfeita. Sacio-me de algum modo, inegável. Mas leviana, apenas comprando o que são capazes de vender.
E é dor também que sinto quando pesa e espeta dentro do peito o tédio latente dessa vida de mesmices e frustrações. Acostumada já, mas doída sempre. Porque sobre o nada que há para se fazer, não há nada a se fazer.
E não sei se encontro alívio ou desespero ao perceber que as dores também sucumbirão, que criarei calos também para elas, num escudo cada vez mais insosso. Seguirá, enfim, a vida em cinza.

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