sexta-feira, 29 de julho de 2011

Ansiedade que Precede o Final

Arrepiar-se.
Prometer o auge,
Permitir-se ser escalado,
Degrau por degrau,
Curva por curva,
E, avistando o ápice,
Parar.

Contorcer-se.
Fingir anuência,
Pedir.
Tato por tato,
Língua por língua.
E, nessa falsa entrega vagarosa,
Esfriar a fervura.

Porque bom mesmo é o atraso das coisas.
Nada de bom há de vir da inimiga da perfeição.
E, mestre que sou,
Prefiro delongas,
Prefiro o sabor das pausas.

E é esta certeza que me move,
A de que o final é definitivamente o melhor de tudo,
Pois é ela que me permite deliciar-me com a espera pelo fim.

domingo, 3 de julho de 2011

Novo Ataque do Coração

Quando se tem uma bagagem relativamente grande, passamos a ficar mais exigentes com quem escolhemos para ter por perto. Não basta apenas frequentar os mesmos lugares, conhecer as mesmas pessoas ou gostar das mesmas bandas. O coração pede objetivo. Aquela pessoa que vai estar ali para nos fazer bem, alguém que nos divirta de maneira atípica, ao mesmo tempo que constrói a vida com propósitos que, de tão parecidos, poderiam muito bem ser os nossos próprios.
É aquela pessoa que, sabemos bem, tem mil e um defeitos – poderíamos até citá-los em ordem alfabética! –, mas com nenhum que seja capaz de nos desanimar. Nenhum que consiga superar o bem estar que essa pessoa nos proporciona.
Então chega esse momento da vida em que já conhecemos muito bem nossa exigência. E andamos de mãos dadas com ela. É aquele ponto em que passamos a não aceitar nada menos que aquilo.
E é por isso que nos assustamos.
Assustamos quando percebemos que a exigência – aquela sábia e rígida exigência! –, que nos deixou na mão uma única vez há muito tempo, furou a guarda novamente.
E parece impossível demais para se acreditar, mas o fato é que chegou um novo perfeito alguém. Dessa vez, perfeito para quem somos agora, agarrados à nossa nova exigência.
E é péssimo admitir que fomos convencidos mais uma vez! Encarar o mundo inteiro e, a contragosto, reconhecer: “Vocês tinham razão. As coisas melhoraram de fato. Encontrei alguém que me faz mais feliz!” não é fácil.
Mas também é impossível não nos convencermos de uma coisa: estamos sofrendo um novo ataque do coração.