Antonieta se sentou no
banco da praça, esperando não sabia o que passar, e passar feliz, para que ela lhe
pudesse sugar um pouco e ser ligeiramente mais feliz também.
Excepcionalmente, naquele
dia, esperou sem ansiar.
Entre o fim do primeiro
cigarro e o acender do segundo foi que sentou ao seu lado senhora gorda, com
lenço no cabelo e enormes joanetes florescendo entre os dedos dos pés sujos, secos
e grossos.
Engraçado. Para Antonieta,
cada joanete combinava com alguma ruga da testa ou circunscrita aos olhos, de onde
parecia nascer o cheiro de uma história diferente. Uma por cada prega.
Achou curiosamente bonitos
os sulcos que a pele ia formando e foi, telepaticamente, lendo a vida daquela
senhora, que como qualquer uma, mas à sua bem calosa maneira, já havia sido
menina, moça e mulher.
Ao se dar conta de que era
admirada, não demonstrando surpresa, ela sorriu. Sorriu mais com as rugas dos olhos
– e suas memórias – que com a própria boca.
Antonieta apagou o cigarro,
ergueu-se e partiu. Foi para casa. A felicidade já havia lhe visitado.