Antonieta se sentou no
banco da praça, esperando não sabia o que passar, e passar feliz, para que ela lhe
pudesse sugar um pouco e ser ligeiramente mais feliz também.
Excepcionalmente, naquele
dia, esperou sem ansiar.
Entre o fim do primeiro
cigarro e o acender do segundo foi que sentou ao seu lado senhora gorda, com
lenço no cabelo e enormes joanetes florescendo entre os dedos dos pés sujos, secos
e grossos.
Engraçado. Para Antonieta,
cada joanete combinava com alguma ruga da testa ou circunscrita aos olhos, de onde
parecia nascer o cheiro de uma história diferente. Uma por cada prega.
Achou curiosamente bonitos
os sulcos que a pele ia formando e foi, telepaticamente, lendo a vida daquela
senhora, que como qualquer uma, mas à sua bem calosa maneira, já havia sido
menina, moça e mulher.
Ao se dar conta de que era
admirada, não demonstrando surpresa, ela sorriu. Sorriu mais com as rugas dos olhos
– e suas memórias – que com a própria boca.
Antonieta apagou o cigarro,
ergueu-se e partiu. Foi para casa. A felicidade já havia lhe visitado.
Que texto lindo! Quanta inspiração! Gostei muito desse, Júlia, me fez refletir bastante. Parabéns!
ResponderExcluirLauritcha, você não faz ideia da paz que eu sinto ao ler isso!
ExcluirNão por orgulho próprio, mas por ter conseguido fazer alguém traduzir para si mesmo reflexões que, noutro momento, fui eu quem fez. É a melhor recompensa! (:
Quanta sutileza demonstrando grandes sentimentos. Isso que é vida, Jú!
ResponderExcluirJu, reconhecimento seu, tão culto e tão sabido, é prêmio em dobro. Juro. ;)
ExcluirComo estou lendo isso só agora? Que texto maravilhoso! Faça um favor para a sociedade e continue escrevendo sempre!
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