Passou tempo demais fotografando as janelas de sua vida com os olhos. Abominou as que tinham barras, sonhou com as que viu noturnas, criou histórias para cada luz que a vista alcançou e sentiu-se confortável no sentimento de anonimato que a multidão de luzes lhe trazia. Mas sempre quadrada a visão. Pois presa. Distante.
Da janela de hoje não vê nada além do que já é seu – e por isso não mais bonito. O anonimato, energia fria que preenche seus pulmões, precisa ser encontrado em outro lugar.
Com certeza há de existir, mas não realmente conhece quem se alimente de frieza e solidão como ela mesma. Cavalos de Troia que a vida lhe deu, hoje não consegue mais viver sem essas duas desgraças, como que numa Síndrome de Estocolmo sentimental. Ama o que lhe amaldiçoou um dia.
O hábito de viver o futuro antes do presente, contudo, faz com que passe os dias sedenta pelo momento em que a janela seja ampla, traga luz em dia e noite, não tenha barras e possa, em fim, também ser porta.
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