Cissa
era aquela moça que a gente encontra sempre que vai a uma festa boa, atarracada
a uma turma badalada, não necessariamente conhecida, mas com certeza divertida.
Era
a beleza natural de uma genética abençoada, misturada com uma extroversão
plantada e enraizada à força por ela mesma. Seduzia e hipnotizava, com um
sempre-ter-o-que-dizer tão natural que fazia com que parecesse contar um par a
mais de décadas, escondidas naquelas coxas brancas alisadas por tantos.
Não
tinha o aspecto sujo que pressupõem ter as pessoas que exaurem seus pecados na
rua. Não era isso que era – embora fosse o que levasse em seu âmago. Tinha, em
verdade, o doce dos perfumes caros, a sensualidade nobre que o sucesso do pai
lhe era capaz de comprar.
Fez
sexo com amor e sem amor o quanto quis e pode, sem nunca se queimar em qualquer
fagulha de culpa, remorso ou arrependimento. Bebeu venenos lentos que poucos
ousariam beber tão amiúde. Usou o corpo como única ponte que tinha para a
felicidade. Exorbitou sentidos.
Cissa
era agora, prazer e euforia como ninguém que eu haveria de conhecer.
Seus
lábios não tinham medo de pronunciar o azedo. Faziam-no como se a ninguém
chocassem. Quem ficava mais, porém, ouvia crônicas de mais um lar arruinado,
sempre da maneira simuladamente natural que somente Cissa era capaz de fazer.
Em
meio aos cacos da família moderna, ela se criou. Foi obrigada a aprender a se
fazer mulher sem sequer acreditar que realmente o era.
Seu
magnetismo também me seduziu. Sua segurança era de uma fachada tão crível, que
cheguei a desejar ter também uma vida de extremos. Caí em mim quando presenciei
algumas de suas explosões desesperadas, que extravasavam a raiva de ter sido
sempre tão abandonada e esquecida.
Não
havia de ser diferente. Seria injusto não dar a Cissa o direito de se inflamar.
Não estivesse à época tão verde, eu poderia ter compreendido tudo isso mais
cedo…
Lembro
de tê-la visto há algum tempo no banheiro de um bar. Estava diante do espelho e
reconheceu mais o meu rosto que o que estava refletido. Cumprimentou com um
sorriso mascarado e a antiga piscada lenta que usava quando tentava ser
irônica, mas que me causou na verdade um pouco de nostalgia. E pena.
O
passar do tempo não permitiu que se curasse. Apenas afiou seu potencial de
externar um pouco mais a sua cólera, ferindo a confiança daqueles que se
aproximavam o bastante para enxergar seu íntimo desprotegido.
Perdeu
alguns vícios, ganhou outros. Mas continuou a rotineiramente se lambuzar dos
fluidos pecaminosos que ainda eram capazes de acobertar seu andar de menina e
frustrações de mulher.
Cissa é uma super mulher!
ResponderExcluirJu, seu lindo! (:
ExcluirTardiamente vi você por aqui...
Quero mais visitas suas! Gente como você lendo um pouco da minha alma me faz feliz demais!