Terra
envelhecida por coronéis engrandecidos de orgulho. Encharcada de conservadorismos
hipócritas. Lá, não se deixa de fazer porque não se quer, mas porque não se
pode deixar ver. É preciso muito cuidado com os olhos atentos, afinal:
reputação não é coisa com que se brinca. Os olhos do outro prevalecem sobre a
minha verdade.
Lugar
onde só cabem abastados, inda que se edifiquem os tronos pelas mãos pobres
calejadas, ásperas e sujas de terra. É Orange County do sertão brasileiro. Nata
que engordura a sociedade.
Seus
herdeiros vivem outra realidade – ou são membros da realeza, com suas roupas
mais nobres e seus carros mais respeitáveis, ou são revolucionários demais,
fumando erva comprada com a mesada do papai. Viagens, presentes, festas: são
personagens de filme, demasiado originais para se encaixarem numa realidade
brasileira típica – “sou mais um estilo londrino”, disseram. Para todo desvio
de roteiro, há solução (ainda que seja mandar matar aquele namorado secreto do garanhão da
família).
As
moças morrem de orgulhos de suas virgindades, fazendo sobre elas publicidade
maior que a pureza que de fato detêm. Se pudessem renová-las de tempos em
tempos, fá-lo-iam sem pensar duas vezes. Para que revolução sexual àquelas que
seduzem seus machos com encantos tão próprios – e tão utópicos – quanto os das
intocáveis donzelas dos contos de fada? Mais vale um currículo sexual digno que
um bom livro de cabeceira.
É
terra de dedos em riste, onde quem aponta não se vale de valores tão valiosos
assim. Cidade que estupra meus sonhos, violenta minhas fantasias. Faz da
esperança criatura fantástica digna de escárnio.
É
lá, é lá. E já faz parte de mim.
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