Eu poderia dizer que estava
preocupada. Estava ou vivia, já não tinha mais certeza. Que a incerteza da
minha vida residia num paradoxo por ser fruto da única certeza que eu possuía
de tudo: a de que ainda não tinha vivido nada.
Poderia ter dito que quase gosto da
tristeza. Que havia me acostumado aos sofrimentos medíocres. Que nutria uma dor
de peito desde não sei quantos anos de idade, uma dor que já havia se tornado
quase amiga.
Ou poderia então contar minha coleção
de impressões da vida até aquele exato momento. Como a de que, felizes, as
pessoas não questionam muita coisa. Ou como a de que as coisas ruins em minha
casa só aconteciam em tempos de chuva.
Caberia ali inclusive uma narrativa
romântico-dramática sobre meu enorme rol de frustrações infligidas a outros e
que, por consequência, renderam escaras de decepção em mim mesma também. Análises
psico-familiares seriam bônus.
Enfim, sei que até um gráfico
sofrimento-benefício eu seria capaz de elaborar para ele sobre cada amor que
tinha vivido em minha vida, na tentativa de explicar aquela impossível paz de
espírito.
Mas ali, diante da frieza implícita – mas
também ingênua – na velocidade daquela pergunta, embarquei nas convenções
sociais.
- Tudo bem com você?
- Sim.
Eu disse que sim.